Dia desses encontrei uma amiga querida de muitos anos que há tempo não via. Nos esbarramos nos corredores de um supermercado lotado e aproveitamos o engarrafamento nos caixas pra estacionar nossos carrinhos em algum lugar seguro e atualizar o papo até que o fluxo diminuísse.  Minha amiga estava inacreditavelmente feliz, tranquila e isso se refletia na sua pele, no seu cabelo, no seu corpo. Depois de ter amargado uma grande decepção amorosa, de ter sofrido um aborto e questionado a sua carreira profissional, ela enfim, tinha conseguido enxergar a luz no fim do túnel após total escuridão. Minha amiga querida fez as pazes com a vida, zerou a conta e começou tudo de novo. Demorou, mas ela finalmente conseguiu e isso me deixou tranquila. Porém, o mais estranho dessa história toda é que ela se sentia culpada por estar feliz, não conseguia acreditar que aquela paz toda estivesse tomando conta da sua vida e isso a estava preocupando demais. Estava curtindo o momento, é verdade, mas estava também à espera de uma catástrofe que a levaria de volta pro breu de onde ela nunca deveria ter saído. Ela tava quase me pedindo desculpas por estar tão plena e tão bem.

Esse sentimento de culpa da minha amiga em relação à sua própria felicidade me colocou a pulga atrás da orelha. Quer dizer então que a felicidade não nos pertence? Não temos esse direito? Só os outros é que podem viver a vida do comercial de margarina, com a família saudável sorrindo no café da manhã? Por que conseguimos ficar felizes pelos outros e não conseguimos aproveitar a nossa própria felicidade?

É contraditório esse sentimento porque a felicidade é algo que vivemos perseguindo. Acordamos, trabalhamos, saímos, nos divertimos, encontramos pessoas, amamos, rezamos, sempre na esperança de encontrar um pouco de felicidade em cada uma dessas coisas pra que a soma, no final da conta, preencha a nossa vida e faça com que ela valha à pena. Mas daí quando parece que finalmente conseguimos alinhar os planetas e sentir uma paz interior enorme, fingimos que não é conosco, que isso não pode estar acontecendo, que em breve alguma coisa muito ruim vai acontecer e nos jogar no calabouço de novo. Suportamos viver amargurados, stressados, tristes, mas felizes, jamais! Alguma coisa há de estar errada. Não ousamos nem compartilhar essa felicidade com os outros, vá que coloquem olho gordo. Eu hein?! Melhor ficar feliz e bem quietinha só esperando pelo novo tsunami de problemas que vai levar esse sentimento de volta pro seu devido lugar, que não é a nossa vida. Viramos especialistas em auto boicote.

Bom, se você não consegue se livrar do sentimento de culpa por ser ou estar feliz, aproveite o bom momento da sua vida mesmo assim. Afinal de contas, daqui a pouco alguém vai se dar conta que entregou o pacote felicidade pro destinatário errado e vai aparecer pra buscá-lo. Ou então, aceite o presente, você deve ter feito alguma coisa pra merecê-lo.

por Menina de Ar (http://meninadear.blogspot.com.br/)