O ser humano diante de situações insólitas está em pauta desde a veiculação de programas como “Survivors” e “No Limite”. Ou ainda o “The Most Amazing Vídeos”, com pessoas enfrentando momentos pitorescos e até perigosos, captados por alguém que filmava o que era para ser apenas um registro de um episódio cotidiano. A pergunta que fica é: como o ser humano responde a esses estímulos e até onde ele pode suportar em nome de sua sobrevivência? José Saramago narrou com maestria em “Ensaio sobre a Cegueira” uma situação desesperadora e suas conseqüências: a cegueira de toda uma população.

O livro começa com um motorista, que subitamente fica cego enquanto está parado em um sinal vermelho. Com uma pequena diferença: ele não mergulha numa total escuridão, mas sim numa cegueira leitosa, completamente branca. A partir daí, a cegueira vai contaminando outras pessoas como que num ciclo, começando por ele e seguindo através das pessoas que mantiveram contato com ele, desde o seu médico, passando pela mulher dele, os pacientes, até que se torna uma epidemia misteriosa. Todos os cegos são confinados em locais abandonados e fechados, sob as ordens dos que ainda conservavam a sua visão. Diante desse cenário, quem enxergava tornava-se uma autoridade, estabelecendo de que forma os cegos deveriam se comportar. Apesar da “epidemia” chegar a um grau tão extenso, acabando por atingir toda a população do local, a mulher do médico é a única pessoa que ainda consegue enxergar e assim registrar todo o horror e provação que os cegos enfrentam. Observando o comportamento deles a partir e o modo como relacionam-se uns com os outros, ela chega a concluir que as pessoas tornam-se realmente quem elas são, a partir do momento em que não podem julgar a partir do que vêem.