Aos 22 anos, ao fazer exames de sangue pré operatórios para uma determinada cirurgia, descobri que estava com HIV. Susto, morte anunciada, contagem regressiva para a morte. Como se todos nós estivéssemos livre desde cronômetro fatal. Nascer e morrer. No entanto, o fato do fim se aproximar era mais nítido, real e incontestável.

Menino ainda, como meu médico dizia, um dos mais renomados infectologistas do Brasil me chamava de “meu menino”….sim….eu era um menino….despreparado e nú de todas perspectivas de querer reverter aquele sentimento de sentença de morte. Recordo que, a primeira pergunta que fiz ao médico foi: “- Se eu não tomar as medicações, quanto tempo de vida terei?” Ele respondeu: “no máximo 9 anos…”

Continhas pra lá, continhas pra cá – eu morreria aos 30 ou 31 anos…poxa… como estava próximo. Hoje com meus 42 anos, tomando meus remédios diariamente, tentando ter uma vida “mais ou menos” saudável, eis-me aqui ainda. O que vejo que mudou durante esses anos? Nada! Fico perplexo quando eu ouço…. Hoje ninguém morre de AIDS… mentira! Profissionais da área da medicina ou os próprios soropositivos tentam confeitar o bolo com confeitos multicoloridos e com o melhor glacê que já pudemos provar. Sim…. nós soropositivos estamos tendo a chance de “viver” um pouco mais sim…. Isso é fato! Aliás é comum substituírem o verbo VIVER por SOBREVIDA.

 

so.bre.vi.da
sf (sobre+vida) Prolongamento da vida além da morte; a vida futura. 2 Estado do que sobrevive. 3 Lembrança que fica da vida de alguém. (MICHAELLIS)

 

Neste interim, o que nos assombra (nós positivos ou EU positivo), são os efeitos colaterais desses coquetéis, que ao meu ver, a maioria ainda enxerga como um coquetel de frutas, daqueles que tomamos a beira de uma piscina num belo resort… engodo puro. Os diversos efeitos colaterais são dos mais terríveis…sejam eles fisiológicos ou psicológicos…. Temos medo de ficarmos feios, expostos, de andar na rua ou por aí nesse mundo e ser apontado como aidético.

Um dos efeitos colaterais de um dos componentes da medicação é a Lipodistrofia facial, que em uma explicação leiga seria a perda e atrofia na musculatura, seja no rosto, pernas, braços ou em qualquer parte do corpo. E ainda não se usa burca para escondermos a tal realidade. Preconceito do próprio portador, preconceito da própria sociedade e família SIM!

Então moçada, não achem que com esses novos tratamentos, que antecedem uma possível mas bem distante cura, tudo será fácil e simples. Você pode ter casos próximos de amigos soropositivos que aparentemente estão suuuuper bem. Sinceramente, isso é papo furado…. encapem seus membros sexuais ao transar, e não julguem os rostinhos bonitinhos, corpinhos saradinhos como se estivessem bem saudáveis e longe de transmitirem a você esse bichinho que come e se alimenta de você e, em algum momento, te destruirá.

Hoje, independente da orientação sexual, idade ou status de relacionamento, transar sem camisinha é cometer um suicídio inconsciente. Suicídio inconsciente? O que é isso? Mais ou menos assim… Você não tem coragem de pular de uma ponte ou explodir seus miolos ou encher a cara com bebidas e vários comprimidos, mas tem de transar sem camisinha. Quer ter mais tempo de apreciar o cronômetro da morte?

 

R.C 42 anos – psicólogo