Desde seu surgimento, a experiência da televisão nunca se igualou à do Cinema. Crítico do site norte-americano Popmatters, Jose Solis, 27, diz “apesar de os programas de TV serem grandes e cintilantes, eles nunca foram tão glamourosos nem ‘importantes’.”

Nas últimas décadas, enquanto o Cinema de Hollywood se tornava mais reacionário com grandes produções milionárias focadas apenas em garotos de 13 anos, a ficção televisiva se revolucionou em variedade temática, tornando-se um lugar onde o ato de contar histórias é – nas palavras de Solis – “rei”.

Serviços HDTV, como o TiVO, possibilitaram a gravação de programas, para serem assistidos depois. Contudo, a internet é elemento modificador crucial na forma como se vê TV.

Foram os sistemas de Video on Demand (VOD), dentre eles o Netflix (norte-americano) e o Now TV (chinês), que libertaram as programações de TV da sala das casa. Através de assinatura, pode-se ver programas em computadores, tablets, smartphones, onde e quando se quer.

E antes mesmo da fixação destes serviços aqui, já parecia que o brasileiro se rendia às séries norte-americana.

Se antigamente domingo era dia de falar mal do Faustão ou do Gugu – ou dos dois ao mesmo tempo, – na era e geração das redes sociais, o primeiro dia da semana é sinônimo de episódios bombásticos de séries como Game of Thrones e True Blood.

Aqui, a mesmice da TV aberta e seus programas de auditório de formato engessado, novelas com os mesmos enredos e atores, representando personagens quase sempre rasos e unidimensionais, foi dando lugar ao gosto por hipsters novaiorquinos, zumbis, nerds hipersexualizados e vampiros politizados, para citar alguns.

“Não aguentava mais ver Manoel Carlos e suas frases de efeito tipo: ‘a violência tem acabar’, ‘a corrupção tem que acabar’, sendo que a novela toda era um conto de fadas sem nenhuma realidade vivida pela maioria,” diz Guto Cruz, historiador de 28 anos que descobriu nas séries americanas um senso de humor controverso nada frequente na televisão aberta do brasil.

Temas e tabus como diversidades sexuais, violência, política e outras questões sociais vem sendo tratados inusitadamente com sensibilidade, através de alegorias intricadas e pelas mentes, mãos e rostos de artistas que migram do conservadorismo recente do Cinema, para um meio que, mesmo comercial, permite maior tempo para desenvolver histórias.

Para Jose, “pode ser que a TV nunca nos dê algo como ‘…E O Vento Levou’, mas seus dramas e comédias inteligentes têm nos trazido experiências grandiosas.”