Em 2013, para ser mais precisa em 19 de outubro, Vinícius de Moraes completou 100 anos de talento. O poeta, compositor e cantor Vinicius de Moraes era tão plural quanto seu próprio nome — senão, ele seria Viniciu de Moral, como diria o escritor Sérgio Porto — o carioca acumula em sua história nove casamentos, com influências diversas sobre a sua produção, diversos parceiros musicais, com incursões por ritmos e gêneros diferentes, peças de teatro, livros de poemas e crônicas e algumas das canções brasileiras mais famosas do mundo, entre elas a icônica Garota de Ipanema.

“A característica de Vinicius que mais me impressiona e, até hoje, ilumina os que conhecem a sua história era a liberdade que ele vivia. Não estava preso a nada, não se importava com dinheiro, coisas materiais”, diz Susana Moraes, a primeira filha do escritor. “Ele é uma inspiração. Nunca vi alguém que viveu como ele, e olha que sou bem velha”, brinca sua filha Suzana.

Vocês sabiam?

O sangue artístico sempre correu nas veias da família. Lidia sua mãe, assim como sua avó, Celestina, toca piano com maestria. Já o pai, era ex-professor de francês e um poeta amador que seguia o exemplo dos parnasianos, se preocupava com a forma, não abria mão das rimas e preferia a objetividade. Tímido, Clodoaldo não publicou nenhum de seus escritos, mantendo-os escondidos em sua gaveta, onde Vinícius, vez ou outra procurava inspiração, o simplesmente furtava alguns versos do pai.

Foi dessa mágica gaveta que sai o poema entregue por Vinícius para a sua primeira paixão – a primeira de uma gigantesca fila. Aos 9 anos, o futuro poeta queria conquistar a colega de classe, Cacy . Ainda inexperiente na arte da lábia, ele roubou do pai os seguintes versos, dos quais mudou apenas o último:

“Quantas saudades eu tenho

De ti oh flor primorosa

Quem em tudo és gentil e meiga

Que em tudo és tão graciosa

Oh quantas saudades quantas

De ti meu bem lá se vão

Como uma garça voando

Cerrando o meu coração

Se eu pudesse descrevê-las

Oh quantas, quantas não são

Mas só de ti, são só tuas

Cacizinha do meu coração”

Anos mais tarde, em entrevista à TV Tupi, Vinicius assume o “delito” e diz que foi a partir daí, ao tomar vergonha na cara (para nosso bel prazer), que ele decidiu escrever os próprios versos.

A paixão por mulheres se mostra assim, desde cedo, o combustível para colocar sentimentos no papel. Ao longo da vida, o carioca se casou (oficialmente) nove vezes, com pouco ou nenhum intervalo de tempo entre uma união e outra. Para elas, escreveu inúmeras poesias e canções que se tornaram famosas no Brasil e, em alguns casos, também fora dele para delírio das moçoilas de plantão.

“Ele não conseguia ficar sozinho. Não aceitava a vida se não estivesse em estado de paixão. Não só pelas mulheres, mas também pelos amigos, de quem tinha muito ciúme. Ele não admitia o tédio, a monotonia. Quando a paixão se tornava ‘só’ amor, já era insuficiente”, conta José Castello, autor da biografia Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão, lançada pela Companhia das Letras. #ficadica de presente de Natal! 😉

“Fez-se do amigo próximo, distante/ Fez-se da vida uma aventura errante/ De repente, não mais que de repente”.  Em 9 de julho de 1980, Vinícius decide tomar um banho de banheira na madrugada. É nesse inusitado leito que o poeta morre, aos 67 anos, de edema pulmonar.

“O que mais me toca é a ausência do amigo, dos papos descontraídos invadindo as madrugadas. Sinto falta de desfrutar daquela inteligência rara, da sua disposição para a vida, sempre sem bloqueios e com muita intensidade”, diz Toquinho.

Se não convenceu a todos como poeta em versos, convenceu ao menos um – o maior deles – na vida. Diante da partida de Vinícius, Vinícius de Moraes sentenciou: “Entre nós (poetas), Vinícius foi o único que viveu como poeta”.

E como viveu.


“A vida é arte do encontro

Embora haja tanto desencontro pela vida…” <3

 

Por Paula Moran