Investindo no lado pós-romantista, o “Existe alguém aí?”, oitavo disco na carreira de Wander Wildner, é uma crítica à sociedade urbana. Um chute na bunda do caos apocalíptico contemporâneo das grandes metrópoles criado pelo homem cifrudo. Conceitual e mais popular do que nunca, o disco conta com 10 canciones inesperadas. Em cada faixa um personagem é o herói de si mesmo e luta pra fazer a diferença do seu mundo interior para o exterior.

– Até onde vivemos nossas próprias vidas? A maioria prefere viver a vida pelos televisores – conta o artista.

Já na capa, idealizada por Wander e executada por Eloar Guazzeli, prédios se elevam por uma cidade chuvosa e quase alcançam o olimpo de Porto dos Casais. No meio desta selva de pedras, um personagem toca guitarra num terraço embaixo de um spoiler com uma ilha. Eis o personagem de “Numa ilha qualquer”, um dos maiores hits do disco, e este é o primeiro sonho. Zarpar pra bem longe das metróples, viver um amor transcendental numa ilha distante dos pecados capitais das capitais.

O disco canta a morte de Porto Alegre. O tiro no pé de uma cidade que pegou o caminho errado, que se perdeu nas próprias transversais de suas contra-mãos. Não existe mais procura, apenas oferta e demanda.

– As pessoas não vivem suas próprias vidas. Optaram pelo caminho do lobo, por uma vida capitalista e consumista. Não se perguntam ‘Quem eu sou?’, ‘O que faço neste planeta?’, ‘Pra onde vou’?. Ao invés de procurar dentro de si, procuram pra fora, copiam do outro. Não é uma questão de bem e mal – explica.

Wander Wildner
No momento sua nave espacial intergaláctica está estacionada no Bom Fim. Uma morada com vista pras estrelas, pé de manjericão e produção artesanal de cerveja. Mas Wander Wildner não pertence a lugar nenhum. Já morou em Lisboa, Berlim, Guarda do Embaú, São Paulo, Rio de Janeiro, Lajeado e, claro, Porto Alegre. A solução, segundo ele, é sair da cidade. Este é o espírito da cousa.

– A cidade não tem mais solução. Tá globalizada. Eu propiciei que a música me levasse à diversos lugares. Inventei isto. As pessoas tem liberdades e não usam o livre-árbitrio. A gente pode fazer qualquer coisa. Qualquer coisa. São infinitas possibilidades. Eu não tenho cidade. Mas as pessoas optaram por viver normas e convenções – conclui.

No exterior gosta de ver as coisas de fora pra pensar diferente. Aí volta pras terras tupiniquins. Não gosta de pensar em alemão, inglês ou italiano. Já pensar em espanhol feito um amante mexicano, por vezes, ajuda no processo de composição. Afinal, é um poeta curvilíneo de pensamentos tortos.

O romantismo acabou. O punk brega amassou as flores. Agora o romancismo é que impera na inspiração de Wander Wildner.

—   O romantismo é a época da Jovem Guarda e o romancismo é o romântico de todas as épocas. O romântico sofre com a história porque é over. Nada pode ser muito mais do que outra coisa. O romancista vê de cima, toca teclados mágicos e anda em naves espaciais. É preciso se elevar para ver o mundo – diferencia o cantor.

Sorte, busca e desapego alimentam os bons momentos do proseador. O novo disco de Wander Wildner é uma HQ sonora, cheia de personagens e histórias bacanudas. Mostra que o virtual é uma ferramenta, mas que a aventura está lá fora. Que o poder de dentro é maior do que o dos “poderosos”. Só o som espacial faz voar. Então, procuremos para dentro e fujamos para as colinas. Sejamos feios, mas sejamos bonitos. Salve-se quem puder.