Acendo o cigarro, o seguro entre os lábios enquanto abro e sirvo o whisky. Eu não disse, mas você já sabe quem eu sou.

Sento-me no parapeito da janela, penso em levar comigo o cinzeiro, mas para quê? Eu não me importo que rumo tomam minhas cinzas, nem se você entendeu o que eu quis dizer.

Olho pela janela: uma noite escura e sombria – pois já vi noites claras e iluminadas, e me atraem essas contradições. Penso em quantas outras pessoas olham para o mesmo céu naquele momento, penso no quão insignificante sou. Eu sou mesmo mais um de muitos, mas ainda assim devo ser importante o suficiente para que você me ouça. Ou acho que sou, pois sigo falando.

Desvio o olhar das estrelas para os espirais de fumaça azul-acinzentada que exalo a cada tragada do cigarro que passo de entre os lábios para entre os dedos e de entre os dedos para entre os lábios enquanto bebo meu whisky. Espere, deixe-me reler essa frase; falava de quê mesmo? Na verdade estava planejando dizer que eu a vejo no ondular da fumaça.

Ela que é a única mulher para mim – pelo menos desde que a última não deu certo, mas a fila do coração tem que andar rápido –, que é a terceira escolhida do meu coração este ano, mas ela é diferente. Ela não é como as outras. Ela não é vulgar como a prostituta em minha cama (prostituta esta cujos serviços falho em reconhecer que contratei por que quis, os quais ela desempenhou com competência; agora a vejo como uma perturbação às minhas reflexões e apenas quero que ela vá embora).

Não, minha amada não é nada vulgar, mas tenho certeza que vai ser boa de cama, mesmo sem experiência; só para mim. Ela gosta de Smiths e de café e está sempre lendo; vai gostar do que eu escrevo; vou escrever sobre ela. Ela não faz ideia do quão linda ela é. Como é o nome dela mesmo?

Quando dou por mim, acabou o whisky, acabou o cigarro, não há mais fumaça a ser descrita e está prestes a amanhecer. Acendo outro cigarro e então e vou passar café. Decido esperar pela manhã para poder descrever as partículas de pó pairando no ar e brilhando sob o cálido sol da manhã – pois já vi sóis eloquentes e me atraem essas contradições.

 

Sobre o autor:

A gaúcha Jade Arbo é a primeira a ter seu conto apresentado nesta curadoria de novos escritores brasileiros: Professora de inglês, estudante de letras e apaixonada por literatura, Jade nasceu em Santa Maria no ano de 1993 foi criada Porto Alegre e atualmente vive em Pelotas onde, como diz o título de seu blog, escreve-se viva… Você pode acompanhar o trabalho da jovem escritora por lá: http://writeyourselfaliveharbaud.wordpress.com/