Um recente comercial dos produtos Veet nos Estados Unidos botou lenha na fogueira de um debate cada vez mais candente: a discussão em torno da necessidade de que as mulheres, para corresponderem ao imaginário da feminilidade, removam os pelos de grande parte de seus corpos (claro, mantendo cabelos, cílios e sobrancelhas, desde que finas e bem delineadas, e talvez deixando-os nas partes íntimas, sob a condição de domesticá-los). O imbróglio ressoou inclusive no Brasil, país que exportou a chamada depilação cavada para diferentes partes do mundo, mas que, nos últimos tempos, vem também revendo o tema.
A propaganda da Veet mostrava as mulheres transformadas em homens por não se depilar – e, em alguns casos, ficava claro: por passar apenas um dia sem retirar os pelos das pernas ou das axilas. A reação negativa à campanha não tardou, veio pesada, e a empresa acabou postando em sua página no Facebook: “Oi… aqui é a equipe de marketing da Veet nos EUA. Queríamos apenas que todos soubessem: nós entendemos – somos mulheres também. A ideia [dos comerciais] surgiu de mulheres que nos disseram que, aos primeiros sinais de pelos no corpo, sentiam-se masculinizadas [“dudes” no original, em inglês]. Era realmente simples e engraçado, pensamos. Honestamente, nós três inclusive nos identificamos com esses momentos da vida real e rimos deles. Nem todos apreciaram nosso senso de humor. Sabemos que as mulheres definem a feminilidade de maneiras diferentes. Veet ajuda aquelas que escolhem ficar lisas, sem pelos. Nunca, nunca mesmo, tivemos a intenção de ofender quem quer que fosse e, por isso, decidimos repensar nossa campanha e suspender aqueles clips. Agradecemos a todos os que nos disseram como se sentiam”.
Com o alcance do Facebook, as críticas à campanha da Veet apareceram inclusive em perfis brasileiros e em outros sites e blogs. Questionou-se, entre outras coisas, se a depilação seria necessária para que as mulheres se façam “femininas”, e até que ponto.
Em grande medida, essa foi a discussão levantada, em agosto do ano passado, pela jornalista Ruth de Aquino, que, em seu blog no site da revista Época, lembrou não ter depilado nada (“da axila à virilha, à perna e sobrancelha”, escreveu) dos 22 aos 36 anos. Isso nunca a atrapalhou, disse, a sair com os homens que queria – talvez porque, acrescentou, ela desejasse “exatamente aqueles que estavam se lixando para esse detalhe”. O post na Época foi motivado pela polêmica envolvendo o ensaio de Nanda Costa para a Playboy, realizado em Cuba. “Jamais faria bigodinho de Hitler na terra de Fidel”, escreveu a atriz no Instagram, ao comentar a reação de internautas e da mídia às fotos. Antes, já tinha brincado com o tema: “Não esperava metade desse barulho, ainda mais com um assunto tão pentelho.”
O episódio do ensaio fotográfico de Nanda Costa desperta a memória para um caso semelhante: o da edição da mesma revista Playboy que trouxe Claudia Ohana na capa, em 1985. Na ocasião, o que a publicação anunciou como “a beleza selvagem de Claudia Ohana” – bem mais selvagem que a de Nanda Costa, inclusive – causou burburinho por todos os lados.
Desde então, a depilação foi-se expandindo e domando a selvageria. Junto com os biquínis cada vez menores, veio a retirada de pelos, cada vez mais cavada, das partes íntimas. A moda acabou exportada para diferentes partes do mundo e, em países de língua inglesa, ficou conhecida como “Brazilian wax”, ou depilação brasileira. Nos últimos tempos, contudo, vem crescendo a oposição à prática. De um lado, argumenta-se, como ocorreu em Nova Jersey, Estados Unidos, que esse tipo de depilação tem de ser muito bem regulado ou mesmo proibido, por questões de higiene e pelos riscos que pode trazer às mulheres que se submetem ao procedimento. De outro lado, mulheres como a jornalista e escritora britânica Caitlin Moran afirmam não querer que seus órgãos sexuais lembrem os de uma criança, mas, ao contrário, que efetivamente pareçam o que são: partes do corpo feminino adulto.
Se a questão lá em baixo é não infantilizar a aparência, evitar a depilação em outras partes do corpo pode relacionar-se à ideia de que ser mulher é algo que vai além, muito além, da retirada dos pelos. Certamente, a afirmação dessa ideia exigirá uma revisão do conceito de beleza. É o que tenta fazer o fotógrafo Ben Hopper, segundo o jornal eletrônico Huffington Post. Sua série “Natural Beauty”, conforme o jornal, visa justamente a “desafiar o que ele descreveu como a ‘lavagem cerebral’ social promovida pela indústria da beleza”. Desafiar como? Por meio do “contraste entre a beleza feminina da moda e a aparência crua e não convencional do pelo feminino que cresce nas axilas”. As fotos de Ben Hopper são assim: mulheres com os braços levantados, sem depilação. E, ao contrário do que ocorre na propaganda do produto de beleza, elas não parecem homens.
Andre Barbosa
O desejo por novidade e por conhecer sempre mais sobre o comportamento humano é o que move esse publicitário carioca, que já mora em Porto Alegre há duas décadas.
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