Todo final de semana: jovens brasileiras de todos os cantos do país começam a se preparar para o final de semana: cabelo, manicure, sobrancelha.No Brasil, uma visita básica (escova, mãos/pés) a um salão de beleza mediano da Vila Mariana (São Paulo-SP) – daqueles que você conhece a dona há anos e tem certeza de que ela não vai derreter seu couro cabeludo no formol, nem arrancar uma picanha de seu dedo – custa de $50 a $80 reais, dependendo da região.Alais Elena, 27 e suporte técnico de uma empresa de software no Silicon Valley, é cidadã americana e foi criada nos Estados Unidos até os 12 anos, quando sua família se instalou no interior da Bahia. Ela conta que uma de suas maiores decepções de adolescência foi saber que ao completar 16 anos não ganharia um carro.”Aqui [nos Estados Unidos], ter um carro significa independência e liberdade,” diz. Só que os preços brasileiros de automóveis acabaram com sua tradição.Nos Estados Unidos e na Europa, o acesso a bens de consumo como automóveis e aparelhos eletrônicos é largamente massificado quando comparado ao Brasil. Enquanto um iPod Touch da última geração aqui custa de $800 a $1500 reais, lá não sai por mais que $300 dólares. Certos carros de luxo no Brasil são considerados “populares” no mercado norte-americano.

Mas quando o assunto é serviços, Alais, que morou aqui até os 23, sente falta. Este mês ela foi ao salão – desses de bairro como mencionado acima. Pintou os cabelos e fez a sobrancelha, gastou $150 dólares!

Ana Clara Rizério, carioca, 21 anos e estudante de Design Gráfico em uma faculdade particular do Rio de Janeiro, morou por seis meses na Alemanha. Disse que uma das coisas que mais a chocou foi que os alemães, quando iam lavar louça, tampavam o ralo, enchiam a pia de água e lavavam toda a louça da casa naquela mesma água. “Era muito nojento, cara! Só que água lá é muito caro,” conta.

Pelo alto valor, serviços como salão de beleza não são feitos com a frequência daqui e, por isso, estão ligados à alta qualidade de vida.

Ana afirma que por isso, a cultura do DIY, “Do It Yoursel”, é muito forte. Quando um de seus amigos alemães, Florian Aptera comprou um piso laminado para seu apartamento, ele mesmo montou através de vídeos tutoriais no Youtube.

Florian, que fez intercâmbio no Brasil quando adolescente e hoje, aos 22, voltou para cursar pós-graduação em Arquitetura, diz que a diferença crucial está nos valores. Segundo ele, “riqueza na Alemanha não é consumo e sim a segurança e criatividade que se tem.”

Hoje, por ter vivido realidades tão distintas, Alais questiona com força os ideais consumistas e, muitas vezes injustos, da sociedade americana. Já Ana, dá maior valor às abundâncias de nosso país, mas sua experiência também a faz questionar a mania brasileira de ser servido.

Em qualquer caso, o que se evidencia é que a riqueza não está mais para a quantidade de dinheiro, e sim para a qualidade do que se pode fazer com ele.