Um dia, não muito tempo atrás, precisei conhecer o underground da minha própria alma e tomar um drink no meu inferno particular para entender e resolver certas coisas a meu respeito, a respeito da minha vida. Tive que arriscar o que tinha nas mãos naquele momento pra embarcar sozinha nessa viagem; não seria possível fazê-la se não fosse assim.
Desci pé ante pé as escadarias que conduziam às profundezas da minha própria essência. Tirei as pesadas correntes do calabouço e libertei todos os meus fantasmas, minhas almas penadas, meus monstros que dormiam debaixo da minha cama. Cada um deles representava um sentimento que me travava a vida e dificultava a minha evolução: medo, fraqueza, ansiedade, estupidez, egocentrismo. Encarei uma por uma dessas sensações horríveis de frente, olhos nos olhos, com um arrepio de congelar a espinha. Reconheci e perdoei cada um desses sentimentos depois de senti-los percorrendo o meu corpo como se fossem sangue viajando pelas minhas veias.
Caminhei na minha própria escuridão tentando enxergar tudo o que me aprisionava, me petrificava, me desviava da rota clara por onde eu deveria seguir e não conseguia por estar acorrentada a uma vida que deixou de ser minha, que virou passado. Tirei todos os esqueletos do armário cuidadosamente para que pudessem, enfim, me conduzir pelo caminho de volta. Mergulhei nas águas fundas e turvas de mim mesma pra ser capaz de voltar num só fôlego para a superfície. Vivi com intensidade o breu interno que me habitava até conseguir enxergar a luz e peregrinar até ela para poder reconhecer o clarão da miha própria existência, da liberdade, da alegria e de um futuro muito mais tranquilo e em paz comigo mesma. Consegui quebrar minhas próprias barreiras, derrubar muitas e fortes convicções, me despir de um disfarce que só me transformava em quem eu não era por medo de ser quem eu sou.
Chegou então a hora de me despedir do demônio, pagar a conta e começar o caminho de volta para a vida. Senti novamente o sol aquecendo meu corpo numa tarde de inverno, a água gelada escorrendo pelo rosto num dia de verão, o vento da liberdade enredando meus cabelos, o coração pulsando vivo outra vez. Emergi muito mais inteira, intensa, segura, decidida do que quero, devo e preciso fazer daqui por diante. Recalculei a rota no meu próprio GPS e to pronta de novo pra viagem.
Valeu, vida! Daqui sigo eu.
Por Menina de Ar ( http://meninadear.blogspot.com.br)