Durante décadas o teatro brasileiro foi símbolo de resistência e ousadia, sendo marcados por sucessos de público com peças em cartaz anos a fio, espetáculos porta-bandeiras de gerações, como a montagem de 1967 feita pelo Grupo Oficina de O rei da vela e ícones como o Teatro Arena. Ainda hoje, ousadia e resistência são sinônimos das nossas artes dramáticas e da dificuldade de se encenar no país. No entanto, mesmo muitos entraves persistindo, incentivos, festivais e residências artísticas dão um novo fôlego às produções desse segmento.

Em vigor desde o começo da década de 1990, a Lei Rouanet, também chamada de Lei de Incentivo à Cultura pode ser considerada um interessante marco do aumento das produções artísticas do país, principalmente por oferecer oportunidade a vários grupos (de pequenos a grandes) conseguirem apoios de grandes empresas para os seus projetos. Suas versões estaduais e municipais não ficam para trás.

Nessa leva, os crescentes e cada vez maiores festivais de teatro recebem cada vez mais grupos novos e incrementam o diálogo e o intercâmbio entre esses agentes de modo enriquecedor. Entre eles, podemos elencar o famoso Festival de Joinville e o FIT em Belo Horizonte, o Festival Internacional de Londrina, os Festivais Universitários, como os de Inverno da UFMG e UFOP, assim como festivais de teatro independente, como o de Santa Maria, e mostras nacionais como a de Sertãozinho.

Complementando os festivais, destacam-se ainda as chamadas residências artísticas, muitas delas iniciativas de grupos já consolidados, como o Grupo Galpão, que criou em 1998 o Oficinão do Galpão, projeto que recebe anualmente atores na sede do grupo mineiro, com quem concebe um espetáculo após um ano de oficinas e preparação.

Outra tendência dessas novas ferramentas é a descentralização do que consideramos qualidade artística do eixo Rio-São Paulo e o destaque de grupos menores, que não precisam de um ator global para se ter uma plateia cativa. Hoje, assim como sempre, é possível apreciar o talento de grupos como A Cômica, Oficina Multimédia em Belo Horizonte, as produções do Teatro Vila Velha em Salvador e os trabalhos de Meran Vargens, como o recentemente apresentado Qualquer coisa a gente inventa ou as produções do Grupo Magiluth, de Recife. Além de grupos que percorrem os cantos e recantos desse país como o grupo mineiro Maria Cutia.

Além disso, e sem menosprezar o monopólio do sudeste, grupos como a Companhia do Latão, em cartaz recentemente com a peça Sociedade Mortuária, ou a Companhia do Feijão, que apresenta atualmente o espetáculo Armadilhas Brasileiras, são algumas das opções da extensa programação que o Brasil possui. Esse panorama dos anos 2000 não implica, contudo, apenas um cenário de otimismos, ainda há muitas dificuldades para se fazer arte no país. Porém, como algo bem tupiniquim, com muito jogo de cintura muita beleza pode ser encenada.