Talvez esta resenha devesse ter entrado no MOOD em outubro do ano passado, quando fez 30 anos que Janis Joplin morreu de overdose de heroína no quarto de um hotel em Hollywood. Nesta época eu ainda o estava lendo e a história de como este livro veio parar em minhas mãos é engraçada. Há uns três anos eu passei por um senhor que vendia alguns livros na minha rua. Um deles era a biografia da Janis Joplin, que me chamou a atenção de imediato. Levei o livro por uma mixaria e quem pensa que saí correndo para devorá-lo enganou-se: ele ficou encostado na minha estante até o meio do ano passado, quando decidi lê-lo. Quem gosta de Janis Joplin pode ter certeza: depois deste livro, ouvi-la nunca mais será a mesma coisa.

Escrito por Myra Friedman, com quem Janis trabalhou em grande parte de sua carreira, o livro conta a sua história desde a sua infância e adolescência em Port Arthur, no Texas. Janis era considerada o “patinho feio” de sua escola, apesar de sua notável inteligência e sensibilidade. De certa forma, a sua baixa auto estima acompanhou-a ao longo de sua vida, em contraste com sua atitude rebelde e voraz que a dominava quando soltava a voz. Para Janis não existia meio-termo, seja nas suas paixões, na música ou nas drogas: tudo era vivido com a máxima intensidade.

Esta biografia é a oportunidade de conhecer uma Janis Joplin que não aparecia nos palcos. Sua voz a transformou na rainha imortal do rock, a maior de todas. Em compensação, seus conflitos interiores e angústias assolavam a sua existência. Para alcançar um certo alívio, voava alto em suas emoções e devorava tudo que sua música tinha a oferecer. Ela não se contentava em ver uma platéia parada: ela queria sempre barulho e atitude.

Janis era perigosa, pois mexia com os sentimentos de quem a assistia, seu brilho no palco era contagiante. Mesmo assim, ela sempre sentiu-se mal consigo mesma, ela se auto punia com duras críticas a suas performances, sua voz (muitas vezes ela chegou a dizer que não sabia cantar) e sua aparência. Se existe uma frase que resume o seu estado de espírito é a seguinte: “ninguém me ama, ninguém me quer”.

Só lendo para saber quem foi Janis Joplin. É um bom meio de entrar em contato com o falso glamour que o rock ou qualquer forma de arte pode proporcionar aos artistas, as pressões e exigências do meio e as maneiras com que os artistas podem lidar com todas essas coisas. Janis foi, sem dúvida, levada por sua maneira de encarar a vida e de enfrentar tudo com sentimentos extremos.