Esta época do ano é realmente muito esquisita e funciona mais ou menos assim: um sorriso no rosto e roupa nova no corpo. Gradualmente, a vida fica em câmera lenta e as pessoas aparentam estar – ou ser – mais felizes. Como se o cheiro de rabanada e pernil estivessem permanentemente no ar e melhorassem a vida das pessoas.

O aspecto mais intrigante desta época diz respeito à sobrevivência destas celebrações. Por exemplo, o Natal é, talvez, o evento mais presente e intenso na cultura ocidental. A figura do Papai Noel, também vem de longa data. Ao contrário do que muitos acham, o bom velhinho não foi um fruto de publicitários criativos que trabalhavam para a Coca-Cola. A famosa marca de refrigerante serviu apenas para reforçar sua imagem e vesti-lo com uma roupa tricolor, atualmente institucionalizada em qualquer canto do mundo. Mas Papai Noel, muito antes da Coca entrar na jogada, já se preocupava em salvar o Natal dos tristes seres humanos. Lendas, tradições e crenças diversas não faltam nesse folclore que já se tornou parte da cultura mundial.

Talvez seja implicância de algumas pessoas mas, independente de todo esse sentimento leve que flutua no ar, muitos ousam dizer que essa é uma época triste e sem razão. Fato é que “estar feliz” nestes dias do ano virou, praticamente, uma obrigação. A falta de paciência vem, portanto, como uma reação direta. Some toda percepção e aceitação pela simbologia, lendas e valores presentes e únicos destas ‘boas festas’. Para essas pessoas – pessimistas e realistas -, o Natal acabou virando sinônimo de comida gostosa, muito vinho tinto e uma dança de jazz com o tio bêbado. Nada além.

Tudo bem, não precisamos ser tão dramáticos e repudiar completamente o espírito natalino, mas é louco pensar que passamos quase 2 meses por ano imersos na celebração cristã do nascimento de Jesus. Sem, necessariamente, estarmos ligados em sua imagem, é claro. Presentes de Natal, campanhas publicitárias de Natal, árvores de Natal, presépios, cartões, luzes, roupas… De repente, a percepção de mundo se revela numa combinação de verde, vermelho e branco. E a risada das pessoas é diferenciada em seu tom puxando para um “ho ho ho” com sotaque inglês.

Tentando achar um meio termo entre os patéticos e pragmáticos sentimentos natalinos, é sempre legal recordar o lado bom disso tudo. A embriaguez, por exemplo, é algo que pode fazer parte. Mas é necessário ter cuidado com o que irá ser dito. Afinal, as pessoas presentes são, muitas das vezes, aquelas que ficaram sumidas durante todo o ano e com as quais não temos a menor afinidade. Talvez até tenha tido, quando mais novos, quando os anseios de cada um ainda não eram definidos, e as brincadeiras de criança serviam de filtro para os futuros desentendimentos.

Durante as apetitosas ceias e trocas de presentes, é preciso colocar um sorriso no rosto e considerar a vida bela. Lembrar todos os bons feitos, momentos e sentimentos do ano. Pensar nas metas para o ano seguinte: metas que devem tanto dar continuidade às obras iniciadas no ano presente, quanto servir de iniciativas para novos projetos. Não precisa ser falso, basta ser um momento de esperança. Independente de rituais religiosos e familiares, esses são dias que servem de prévia para dias melhores. Uma só vez por ano… não é tão difícil assim.

 

 

 

21 de dezembro de 2000.