É domingo à tarde, o tempo está nublado, a ressaca pesa e, por fim, decide-se ver um filme. “Amores possíveis” é o escolhido por vender uma história que pode ser a de qualquer um de nós. Há alguns anos, um passo errado te afasta de alguém que você não esqueceu até hoje. Como seria a sua vida a partir de outras decisões na época? Há três finais diferentes, ou seja, uma bela chance para que o espectador viaje um pouco em sua própria história. A sinopse é boa. O problema é que o filme dirigido por Sandra Werneck mostra-se uma trama televisiva vazia que não provoca nenhuma nostalgia, mas raiva por ter caído em uma armadilha de monotonia sem ligação com a realidade.

Na primeira metade do tempo passamos esperando que o filme melhore. Afinal, há Irene Ravache… O casal de atores Murilo Benício e Carolina Ferraz até se esforça para criar diferenças marcantes para os seis personagens que interpretam. Enquanto há diálogos, tudo bem. O problema é quando se beijam e deixam tudo como se estivéssemos olhando para uma revista de fofocas (afinal, eles são casados de verdade). O que significa mais ou menos 67% do filme…

Não bastasse isso, Benício não convence muito como o filhinho de mamãe, o gay ou o advogado-infeliz-com-a-esposa. O primeiro, aliás, parece uma caricatura do Evandro Mesquita. E onde é que a produção conseguiu aquelas gravatas ultrapassadas para o rapaz? A ambientação parece misturar anos 80 com anos 90. Para parecer mais moderninha, a diretora inclui uma garota semi-punk tatuada em uma cena, uma locação numa boate GLS e faz com que o Emílio de Mello interprete dois gays, um deles em plena região portuária. Tudo bem.O mais repugnante mesmo é que o filme diz tratar de sentimentos, digamos, sérios. Mas zomba da nossa paciência ao introduzir uma empresa especializada em encontros de casais, ao estilo “Mulher nota 1000”, que usa um bip (sic) para que as almas gêmeas se reconheçam na rua…E o que é aquela Cristine Fernandes com falso sotaque americano? A paciência cai a níveis críticos. Chego a pensar em ir à livraria do primeiro  andar…Faltando uns 30 minutos de filme, a coisa fica pior. Todos os personagens do Benício sofrem do mesmo problema: indecisão. Não sabe se é gay ou se quer pegar a ex-mulher. Se fica com a esposa ou com a amante. Se fica com a mãe ou com a namorada…Isso tudo num filme cuja fotografia poderia ter explorado as interessantes e raras locações no cais do Porto. Com tantos patrocínios que aparecem nos créditos, não seria difícil investir um pouco mais. A única salvação foi mesmo a Irene Ravache, mas não suficiente. Amores possíveis. Impossível não odiar.

Por Leo Feijó